DIFERENÇAS ENTRE CRISE ATUAL E CRISE FINANCEIRA DE 2008

Li um artigo muito interessante com os comentários de um gestor de fundos de investimentos da corretora Geração Futuro e resolvi fazer um resumo dos pontos mais interessantes, para tentar explicar as principais diferenças entre a crise atual na Europa e a crise financeira que assolou o mundo em 2008, complementando o texto com links para notícias que comprovam os dados, bem comentando o texto e dando minhas opiniões.

A crise de 2008 ocorreu na maior economia do mundo, fragilizando e travando o crédito do mais importante sistema financeiro global, o dos EUA. A crise mundial de 2008 teve seu início nos EUA no mercado de crédito imobiliário (hipotecas com perfil de crédito subprime). A inadimplência dos financiamentos debilitou a situação financeira de muitos bancos norte-americanos, que sem ajuda das autoridades e do Governo, acabaram em dificuldades.

Apenas após a quebra do banco Lehman Brothers e das conseqüências bastante negativas para os mercados de crédito e o comércio mundial, é que o governo dos EUA e de outros países atuaram de forma conjunta para restabelecer o funcionamento normal dos mercados financeiros, através de pacotes bilionários de financiamentos e ajuda aos bancos e principais empresas afetadas.

A crise atual na Europa é conseqüência da fragilidade fiscal de alguns países da região, como a Grécia, cujos governos gastam mais do que arrecadam, e que apresentam endividamento elevado e crescente. Os investidores temem que estes países tenham dificuldade em manter esta situação por longo tempo, o que poderia levar a um default (calote) de seus títulos de dívida.

Os países europeus e o FMI anunciaram, de forma preventiva, um pacote de ajuda de US$1 trilhão (750 bilhões de euros) para assegurar que haverá liquidez para os títulos dos países em crise. O pacote preventivo minimizou as chances de uma crise financeira na região, porque assegura a rolagem da totalidade dos títulos dos países mais expostos da região até o fim de 2012.

Este pacote preventivo, apesar de não estar totalmente aprovado, acalmou os mercados e contribuiu para a redução dos temores de que poderia haver dificuldades no refinanciamento ou mesmo default de alguns países europeus, o que traria implicações negativas para bancos da região.

A União Européia ordenou que todos os países da região, principalmente aqueles mais expostos à crise (com maior déficit nas contas públicas), ajustassem suas contas públicas, reduzindo déficits de acordo com os padrões desejados nas regras da região.

Isto implicou anúncios de medidas de cortes de gastos públicos e ajustes nos orçamentos de países com Grécia, Portugal e Espanha (entre outros), de forma a melhorar suas contas públicas. Estas medidas são complementares ao pacote de ajuda financeira, e servem para assegurar que os países com pior situação melhorarão sua condição financeira futura, reduzindo riscos de calote.

Os anúncios de cortes nos gastos públicos de países da União Européia repercutiram negativamente na expectativa do mercado financeiro quanto à recuperação da economia da Europa nos próximos trimestres. Esta perspectiva negativa quanto à expansão menor ou negativa do PIB europeu também contribuiu para quedas nas bolsas européias nos últimos dias. Menores gastos públicos poderão inibir a atividade econômica nos países da Europa, fazendo com que o PIB da região cresça menos ou mesmo volte a apresentar queda nos próximos períodos.

Conseqüência direta da crise na Europa, o Euro desvalorizou-se quase 10% em maio, ante o dólar, e perde quase 15% do seu valor em 2010. Um Euro fraco dificulta as exportações dos EUA, Japão e China para a Europa, prejudicando indiretamente a economia destes países – um efeito negativo pequeno, dado que o mercado interno (consumo ou investimentos) é o principal motor da economia destes países.

Por outro lado, de forma positiva, países europeus exportadores, como Alemanha e Itália, se beneficiam da queda do Euro. A queda do Euro gera também impactos negativos nos preços das commodities mundiais, cotadas em dólar, contribuindo também para reduzir a demanda européia por produtos básicos, que se tornam mais caros.

Não é a toa que a China tem se queixado bastante, enquanto a Alemanha e a França não têm se preocupado tanto.

Qual a possibilidade da atual crise na Europa se tornar uma nova crise mundial, semelhante à crise de 2008?

É difícil acreditar que a atual crise na Europa produzirá conseqüências tão negativas para o sistema financeiro europeu e mundial quanto aquelas provocadas pela quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. Naquele momento, por falta de atitudes preventivas das entidades reguladoras e do governo dos EUA, o sistema financeiro norte-americano entrou em forte crise de liquidez, reduzindo o fluxo do crédito para empresas e afetando diretamente a economia real, não apenas dos EUA, mas de todo o mundo – pela importância deste país no comércio internacional e nas finanças mundiais.

O pacote preventivo de apoio aos países mais afetados, anunciado pela economia européia, foi suficiente para assegurar a liquidez da rolagem das dívidas destes países e reduzir bastante os riscos de fragilidade no sistema financeiro europeu. As principais conseqüências negativas desta crise para a economia da Europa estão relacionadas à redução dos gastos dos governos, necessários para reduzir os riscos dos títulos de dívida dos países, as quais podem reduzir o ritmo de recuperação das economias da região após a crise mundial de 2008.

No entanto, pelo lado positivo, o enfraquecimento do euro beneficia os exportadores europeus, que ampliam sua competitividade por meio do câmbio, o que deve impulsionar vendas externas em boa parte da Europa. A crise na Europa não se assemelha à crise de 2008 na sua origem, e tampouco se espera que suas conseqüências sejam semelhantes, dado que o sistema financeiro europeu foi protegido pelo pacote preventivo.

Conclusão: Acredito que o mercado aprendeu com a crise financeira mundial de 2008 e agiu pro-ativamente, se antecipando ao que poderia ser uma crise ainda maior e ter como consequência o fim do euro, como sugeriu ninguém menos que o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz.

Como o empréstimo foi concedido por grandes países europeus juntamente com o FMI, a economia dos países afetados pela crise será, de certa forma, supervisionada por essas entidades. Isso fará com que as medidas recomendadas sejam realmente cumpridas, evitando que os erros do passado continuem a ocorrer.

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