Você já ouviu a frase “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”?
Aposto que sim!
Mesmo que não ainda tenha ouvido esta frase, certamente conhece pessoas que aconselham uma coisa, quando na verdade fazem algo completamente diferente.
Em alguns casos, trata-se da “voz da experiência” compartilhada por pessoas que cometeram erros na vida e não querem que você passe pelo mesmo problema.
Fumantes que não recomendam que você fume ou pessoas endividadas que sugerem que você não utilize o cartão de crédito são apenas dois exemplos.
Em outros casos, entretanto, a pura e simples hipocrisia.
Há pessoas que pregam a honestidade, mas são corruptas. Ou que recomendam algum investimento bastante arriscado, mas nunca colocaram um mísero real nesta “baita oportunidade”.
Infelizmente a expressão “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” também serve para as recomendações de investimentos dos bancos.
Pare para pensar nas recomendações de investimento que você já recebeu do seu gerente ou faça hoje mesmo este teste e pergunte ao seu gerente onde investir seu dinheiro.
Você vai receber as mais distintas respostas, desde a recomendação de planos de previdência privada, fundos de investimento, seguro de vida e até mesmo títulos de capitalização.
No entanto, existe uma aplicação financeira que nunca será recomendada pelo seu banco: títulos públicos, através do Tesouro Direto.
E ainda fica pior.
Se você perguntar sobre títulos públicos, provavelmente será desencorajado(a) sob as mais diversas alegações: “é muito complicado”, “é muito arriscado”, “a rentabilidade é baixa”, e por aí vai…
Porém, o que você talvez não saiba é que estas mesmas instituições financeiras que não recomendam o investimento em títulos públicos são as maiores detentoras de títulos públicos, segundo o Relatório Mensal da Dívida Pública Federal, publicado em dezembro/2015 (todos os relatórios podem ser visualizados aqui).
Quer saber mais?
Então continue lendo este artigo.
Detentores dos Títulos Públicos
Recentemente o Leandro Avila, do Clube dos Poupadores, publicou um excelente artigo sobre aposentadoria com títulos públicos, onde ele explorou várias informações contidas no relatório mensal da dívida.
Achei tão interessante que decidi mostrar os maiores investidores/detentores de títulos públicos, para que você veja como a falta de conhecimento pode prejudicar seus investimentos.
Estes eram os maiores detentores de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional, ao final de 2015:
- Instituições financeiras (bancos comerciais, bancos de investimento e corretoras): 25,01%;
- Previdência (aberta, fechada e regimes próprios): 21,37%;
- Fundos de investimento: 19,55%;
- Não-residentes: 18,79%;
- Governo: 5,77%;
- Seguradoras: 4,58%;
- Outros: 4,94%.
Aqui cabe uma rápida explicação sobre cada uma dessas categorias e como elas investem em títulos públicos.
Instituições financeiras
Esta categoria inclui a carteira própria de bancos comerciais nacionais e estrangeiros, bancos de investimento nacionais e estrangeiros e corretoras e distribuidoras. Também inclui os bancos estatais e o BNDES.
Em resumo, aqui estão os grandes bancos.
Sabe aquele dinheiro de milhares (ou milhões) de correntistas que fica parado na conta corrente?
As instituições financeiras investem em títulos públicos e embolsam essa rentabilidade.
Previdência
Esta categoria inclui as carteiras dos planos de previdência aberta (ex: planos oferecidos pelos bancos), fechada (ex: planos oferecidos por empresas aos empregados) e Regime Próprio de Previdência Social (ex: planos oferecidos a servidores públicos que não contribuem com o INSS).
Sabe aquela previdência privada oferecida pelo seu banco, que possui alta taxa de administração e, em muitos casos, taxa de carregamento?
Você paga altas taxas para os administradores destes planos investirem majoritariamente seu dinheiro em títulos públicos, algo que você poderia fazer por conta própria.
Fundos de investimento
Esta categoria inclui todos os fundos de investimento regidos pela Instrução CVM 555, de 17/12/2014.
Em outras palavras, praticamente todos os fundos de investimento que você já ouviu falar, tais como fundo de renda fixa, fundos DI, fundos multimercados, fundos de ações…
Sabe aquele fundo de investimento que você escolheu por sugestão do seu gerente e que possui uma taxa de administração?
Eles também investem seu dinheiro em títulos públicos e ainda cobram uma taxa de administração para fazer isso.
Não-residentes
São pessoas físicas ou jurídicas com residência ou sede no exterior, que investem em títulos públicos através de fundos de investimento ou qualquer outra forma autorizada pela Carta Circular nº 3.278, de 18/06/2007 (para baixá-la, clique aqui).
Só para você ter uma ideia, a quantidade de dinheiro aplicada em títulos públicos por não-residentes é quase 20 vezes maior (18,79% contra 0,94%) que o montante investido por pessoas que moram no Brasil.
Enquanto muitos brasileiros ainda têm medo de investir no Tesouro Direto, investidores estrangeiros investem fortemente em títulos públicos.
Governo
Esta categoria inclui fundos e recursos administrados pela União, tais como FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), fundo soberano ou fundos garantidores.
Sabe aquele seu dinheiro do FGTS que rende bem abaixo da inflação?
O governo investe em títulos públicos e obtém uma rentabilidade bem superior à correção do FGTS (3% a.a. + taxa referencial).
Seguradoras
Esta categoria inclui todas as seguradoras, que oferecem os mais diferentes tipos de seguro: seguro de vida, seguro residencial, seguro-saúde, seguro-auto…
Sabe aquele valor que você paga anualmente para o seguro do seu carro, por exemplo?
Ele fica investido em títulos públicos, rendendo juros para as seguradoras.
Outros
Esta categoria inclui os investidores pessoa física residentes no Brasil, além de sociedades de capitalização (que emitem títulos de capitalização), entre outras carteiras próprias não consideradas nas demais categorias.
Apesar desta categoria corresponder a 4,94% do total, apenas 0,94% (R$ 25 bilhões) estão no Tesouro Direto.
Só lembrando que o montante total (soma de todas as categorias) era R$ 2,65 trilhões, em dezembro de 2015.
Isso significa que menos de 1% do total de títulos públicos emitidos estão nas mãos de investidores pessoa física, pessoas como eu e você.
Pode parecer pouco, mas as vendas têm crescido fortemente nos últimos anos.
Observe o gráfico abaixo:
Em 2015, as vendas de títulos públicos no Tesouro Direto cresceram 190,5% em relação a 2014.
Em 2014, o crescimento já havia sido de 35,4% em relação a 2013.
Conclusão
Como diria Leandro Avila, meu amigo e também educador financeiro:
Todos lucram com a sua ignorância.
Ao delegar o controle dos seus investimentos para terceiros, você perde dinheiro com o pagamento de taxas e ainda deixa de investir diretamente numa das melhores aplicações financeiras do mercado.
Como você acabou de descobrir neste artigo, praticamente todas as entidades relacionadas com sua vida financeira investem em títulos públicos.
Em contrapartida, os bancos simplesmente não falam sobre este investimento, pois é muito mais vantajoso (para eles) que você invista nas aplicações financeiras ofertadas por eles, ao invés de investir por conta própria.
É o famoso “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Enquanto investem diretamente em títulos públicos, eles recomendam que você invista numa infinidade de aplicações financeiras, menos títulos públicos.
Por essa razão, você precisa adquirir conhecimento sobre educação financeira e investimentos, para assumir o controle da sua vida financeira.
Nos últimos anos, tenho desenvolvido uma série de iniciativas para incentivar o investimento no Tesouro Direto, desde artigos e aulas gratuitas, até aulas ao vivo.
Além disso, criei também o Tesouro Direto Descomplicado, curso oficial do Quero Ficar Rico exclusivamente sobre o investimento em títulos públicos, que você pode conhecer clicando aqui.
Nunca é demais lembrar que conhecimento é liberdade.
Ao decidir investir na sua educação financeira, você se livra de péssimas aplicações financeiras que só enriquecem os bancos, e não você.
O que fazer agora…
Deixe um comentário abaixo e compartilhe conosco se você já investe em títulos públicos ou o que está faltando para você começar a investir.
Tenho o maior prazer em ler todos os comentários e poder ajudar pessoas a começar a investir no Tesouro Direto.
Até a próxima!
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