Geralmente não costumo sugerir carteiras de investimento por dois motivos:
- Não gosto de recomendar produtos de instituições financeiras específicas, pois prefiro manter essa imparcialidade;
- Não gosto de ser cobrado por qualquer resultado indesejado.
Entretanto existem produtos totalmente independentes (títulos públicos e fundos de índice, por exemplo) e, além disso, toda e qualquer decisão tomada após a leitura deste artigo é de única e exclusiva responsabilidade do leitor.
Por essas razões, vou recomendar alguns ativos que, na minha opinião, são imprescindíveis em qualquer carteira de investimento.
Onde Investir Seu Dinheiro
Mesmo para um investidor mais conservador, é recomendado investir em Renda Variável, pelo menos uma pequena parte do patrimônio.
Em países como os EUA, por exemplo, mais da metade da população investe em ações. Isso porque a rentabilidade dos títulos públicos deles (chamados de bonds) é praticamente zero.
Aqui no Brasil, temos títulos públicos com rentabilidade garantida acima da inflação, mas ainda assim é interessante investir parte do capital em Renda Variável.
Aliado a isso, existem estratégias e tipos de investimento que permitem diversificar sua carteira e manter o risco sob controle, mesmo sem muito conhecimento na área.
Nunca escondi que minha estratégia preferida é a alocação de ativos. Também já deixei claro que prefiro o investimento passivo (para redução de custos, estresse e tempo de análise dos ativos).
Isso não significa que é a melhor opção ou que não existem outras alternativas. Trata-se apenas da minha preferência e das opções que adoto.
Antes de continuar, vou explicar sucintamente o que é cada um desses dois conceitos.
Alocação de Ativos
Alocação de ativos é uma estratégia de investimentos que busca melhorar a relação entre risco e retorno através do tamanho da posição, ou seja, o quanto o investidor investe em cada ativo de acordo com a sua tolerância ao risco, metas e horizonte de tempo.
Renomados estudos acadêmicos mostram que mais de 90% da variação do retorno de uma carteira de investimentos no longo prazo é atribuída a sua alocação de ativos.
A porção restante – menos de 10% – é atribuída ao market timing (momento de compra e venda de uma ativo) e a escolha de determinadas ações individuais e títulos.
Portanto, lembre-se que a alocação de ativos, ou seja, o quanto você destina para cada investimento em sua carteira, é 9 vezes mais importante do que quando você compra determinado ativo e qual é esse ativo.
Ao investir, pense no quanto ao invés de qual e quando.
Outro estudo muito relevante mostrou que 66% dos fundos ativos de ações no Brasil perdem para o Ibovespa. Mesmo com grandes equipes para analisar balanços e visitar empresas, apenas 1/3 dos fundos conseguem obter sucesso no mercado.
Onde eu quero chegar com tudo isso? Você vai descobrir daqui a pouco…
Veja agora 4 vantagens da alocação de ativos na prática:
#1 – Minimiza o risco de uma carteira de investimentos
A sensível diminuição do risco é a principal vantagem da alocação de ativos. Muitos investidores caem na ilusão de atentar somente para o retorno de um ativo. Porém, esquecem que maiores retornos estão ligados a maiores riscos.
Como a alocação de ativos minimiza o risco de uma carteira de investimentos? Diversificação é a palavra-chave.
Investindo em diversos ativos você diminui o impacto do resultado negativo de um único ativo na carteira.
Harry Markowitz, pai da moderna teoria dos portfólios, já explicava em 1950 como o risco de uma carteira é menor do que a soma dos riscos individuais de cada ativo. Parece abstrato, mas na prática é um conceito bem simples de entender.
#2 – Fácil de entender, simples de praticar e ideal para alcançar ótimos resultados
A alocação de ativos vai direto ao ponto. Basicamente, você só precisa seguir 5 passos para montar e gerenciar sua carteira de investimentos:
Defina o percentual que irá investir em cada classe (categoria) de ativos. Ex: 70% em Renda Fixa e 30% em Renda Variável.
Defina quais ativos você pretende incluir nestas categorias. Ex: Renda Fixa (LFT, LTN e NTN-B) e Renda Variável (BOVA11 e SMAL11).
Defina o quanto irá alocar em cada ativo específico. Ex: Renda Fixa (30% em LFT, 20% em LTN e 20% em NTN-B) e Renda Variável (20% em BOVA11 e 10% em SMAL11).
Utilize os aportes mensais para equilibrar a carteira.
Monitore sua carteira ao longo de um período preestabelecido.
#3 – Menos custos, menos stress e mais tempo fora do mercado
Diferentemente das técnicas de alta frequência e rotatividade de ativos, a alocação de ativos tem foco no longo prazo e na baixa rotatividade de ativos (menos custos).
Alocação de ativos é uma estratégia de reduzir riscos. O objetivo é que você melhore a relação risco × retorno de sua carteira e saiba exatamente o que fazer em diversos cenários (menos stress).
A alocação de ativos é uma forma de colocar a carteira em piloto praticamente automático, fazendo apenas revisões em um período pré-determinado (mais tempo livre).
#4 – Planejamento com foco no longo prazo
Um dos maiores desafios para o investidor é deixar de se preocupar com as microtendências (movimentos de curto prazo) do mercado e pensar sempre no longo prazo.
Essa abordagem, embora simples, permite fazer planejamentos melhores e mais eficientes.
Os conceitos da alocação de ativos como minimização de riscos e custos, além de desenvolver qualidades como disciplina e paciência, interligam-se ao pensamento com foco no longo prazo.
Investimento Passivo
Diferentemente do investimento ativo, onde o investidor precisa passar horas analisando cada ativo para então escolher qual deve comprar ou vender, no investimento passivo é necessário apenas definir uma alocação de ativos e manter essa composição ao longo do tempo.
O objetivo é reduzir os custos (taxas de corretagem, DOC e TED, entre outros), pois não é necessário comprar e vender muitos ativos.
Reduzir também o stress, por não precisar acompanhar o mercado diariamente (ou mesmo semanalmente).
E, por fim, reduzir o tempo de análise de investimentos.
Carteira Ideal
Na minha opinião, a carteira ideal tem que ser composta por títulos públicos e fundos de índice.
Não quer dizer que você não pode ter outros ativos de renda fixa (como CDBs, debêntures ou LCI) ou renda variável (como ações ou fundos imobiliários).
O grande problema de investir em múltiplos ativos de renda variável é a necessidade de comprar vários para diversificação, o que eleva bastante os custos com as taxas de corretagem.
Para investidores com maior capacidade de investimento, é uma ótima opção. Mas para a maioria dos investidores não é.
Ativos de Renda Fixa
Para investimento em renda fixa, minha proporção preferida é a seguinte:
- 50% em ativos indexados à taxa SELIC (ou CDI);
- 25% em ativos indexados ao IPCA (índice de inflação);
- 25% em ativos prefixados.
Traduzindo isso para títulos públicos, a carteira ficaria assim:
- 50% em LFT;
- 25% em NTN-B Principal;
- 25% em LTN.
A opção por títulos públicos é por conta da ótima rentabilidade com baixo risco. Mas esses ativos podem ser substituídos por CDB (com rentabilidade acima de 98% do CDI), LCI ou debêntures, contanto que a relação risco e retorno seja atrativa.
A maior parte deve ser alocada em LFT (ou outro ativo indexado à taxa SELIC) porque é o único título que não apresenta rentabilidade negativa.
Mesmo não tendo o melhor desempenho, isso pode ser importante caso seja necessário fazer um resgate antes do vencimento do título.
Ativos de Renda Variável
Para investimento em renda variável, minha proporção preferida é a seguinte:
50% em ativos mais conservadores;
50% em ativos mais agressivos.
Fazendo a “tradução” para fundos de índice, a carteira ficaria assim:
- 50% em BOVA11;
- 50% em SMAL11.
É possível dividir essa proporção entre ações de grandes empresas e de empresas menores, mas existe o problema dos custos, que relatei anteriormente.
Outra possibilidade é dividir entre empresas que pagam bons dividendos (mais conservadoras) e empresas menores que estão em crescimento (mais arriscadas).
Também é possível investir através de fundos de investimento em ações, mas a taxa de administração é muito maior que a taxa dos ETFs (fundos de índice), além de ter uma gestão ativa (que busca superar o Ibovespa).
A questão é que, como já mencionei anteriormente, 66% dos fundos ativos no Brasil não conseguem superar o Ibovespa. E o BOVA11 cumpre esse papel, ao acompanhar o Ibovespa. Com os menores custos.
Proporção entre Renda Fixa e Variável
Após sugerir minha alocação para categoria (fixa e variável), é importante também definir a proporção que será alocada em cada um deles.
Investidores conservadores tendem a alocar a maior parte dos seus ativos em renda fixa. Já investidores agressivos se aventuram mais na renda variável.
Na minha opinião, distribuição para cada perfil do investidor deve ser assim:
- Conservador: 80% em Renda Fixa e 20% em Renda Variável;
- Moderado: 60% em Renda Fixa e 40% em Renda Variável;
- Agressivo: 40% em Renda Fixa e 60% em Renda Variável.
Essas proporções são apenas sugestões. Até porque existem investidores extremamente conservadores que investem 100% em renda fixa. Há também investidores muito agressivos que investem exclusivamente em renda variável.
Isso vai depender do perfil de investidor de cada um.
Como fica cada carteira?
Para saber como fica cada carteira, é necessário multiplicar a proporção de cada perfil do investidor pela distribuição que eu sugeri para os ativos de renda fixa e de renda variável.
O que isso significa?
Vamos fazer as contas, utilizando o perfil conservador como exemplo, que tem 80% em Renda Fixa e 20% em Renda Variável.
A carteira ficaria assim:
- LFT: 50% * 80% = 40%;
- NTN-B Principal: 25% * 80% = 20%;
- LTN: 25% * 80% = 20%;
- BOVA11: 50% * 20% = 10%;
- SMAL11: 50% * 20% = 10%.
Agora que você entendeu o cálculo, vamos ver como fica cada carteira.
Carteira Conservadora
- 40% em LFT;
- 20% em NTN-B Principal;
- 20% em LTN;
- 10% em BOVA11;
- 10% em SMAL11.
Carteira Moderada
- 30% em LFT;
- 15% em NTN-B Principal;
- 15% em LTN;
- 20% em BOVA11;
- 20% em SMAL11.
Carteira Agressiva
- 20% em LFT;
- 10% em NTN-B Principal;
- 10% em LTN;
- 30% em BOVA11;
- 30% em SMAL11.
Considerações Finais
Montar uma carteira de investimento não é um bicho-de-7-cabeças nem deve ser tratado como tal.
Para a maioria dos investidores, não acho que valha a pena investir tanto tempo para aprender a analisar ativos. Além de ser uma tarefa complexa, exige bastante conhecimento e dedicação para obter resultados acima da média.
A adoção da estratégia de alocação de ativos com investimento passivo é ideal para quem não quer perder (ou investir, dependendo do ponto de vista) tempo analisando ativos, não quer se estressar com o mercado e não quer gastar muito com taxas de corretagem e administração.
Por fim, se você pretende começar agora a montar sua carteira de investimento para garantir um futuro mais tranquilo para você e sua família, recomendo o Como Investir Dinheiro, livro eletrônico oficial do blog Quero Ficar Rico.
Ótimos investimentos!
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