O que é spread bancário?

O que é spread bancário?Sempre que lemos notícias sobre os juros abusivos cobrados pelos bancos ou até mesmo sobre a recente redução das taxas de juros nos bancos públicos (e alguns privados), ouvimos falar também sobre o spread bancário.

Mas, afinal, o que é spread bancário?

O objetivo deste artigo é explicar o que é spread bancário, apresentar a decomposição deste spread no Brasil e como ele poderia ser reduzido.

Spread bancário

Spread bancário é a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro.

O cliente que deposita dinheiro no banco, em poupança ou outra aplicação, está de fato fazendo um empréstimo ao banco. Portanto o banco remunera os depósitos de clientes a uma certa taxa de juros (chamada taxa de juros de captação ou simplesmente taxa de captação).

Analogamente, quando o banco empresta dinheiro a alguém, cobra uma taxa pelo empréstimo – uma taxa que será certamente superior à taxa de captação. A diferença entre as duas taxas é o chamado spread bancário.

Decomposição do spread bancário

Enquanto o governo (e boa parte da população) coloca a culpa do alto spread bancário nos lucros exorbitantes dos bancos, estes se defendem por conta da alta inadimplência e do depósito compulsório (o que é depósito compulsório?).

No final das contas, quem está com a razão?

Para termos essa resposta, vamos recorrer ao Relatório de Economia Bancária e Crédito – 2010, que pode ser encontrado na página de Juros e Spread Bancário do Banco Central.

Apesar dos dados mais recentes serem apenas de 2010, ainda assim é possível tirar ótimas conclusões sobre o assunto.

Analisemos a tabela abaixo:

Decomposição do spread bancário

É possível que, em 2010, a taxa média de aplicação (taxa de juros cobrada pelos bancos) foi 39,70%, enquanto a taxa média de captação (taxa de juros que os bancos ofereceram aos clientes) foi apenas 11,83%.

O resultado dessa conta é um spread bancário de 27,87% (39,70 – 11,83).

Como pode ser visto sem dificuldades, a maior parcela do spread bancário vem Margem Bruta, Erros e Omissões (lucro dos bancos), muito superior, por exemplo, à inadimplência e ao compulsório.

Não é difícil concluir que nós estamos corretos em afirmar que a culpa das altas taxas é da ganância dos bancos, e que a inadimplência e o compulsório têm um impacto muito menor do que os bancos alegam.

Para ilustrar ainda melhor, vamos observar a mesma tabela em termos percentuais:

Decomposição do spread bancário (%)

Fica ainda mais claro o impacto do lucro dos bancos na “culpa” dos altos juros. Mais da metade do spread bancário (exatos 54,62%) é referente ao lucro dos bancos.

Outra informação muito relevante: enquanto o Custo Administrativo caiu quase 40% (de 20,42% para 12,56%, o Compulsório teve uma redução de quase 60% (de 9,40% para 4,08%) e a Inadimplência manteve-se praticamente estável, a Margem Bruta passou de 45,89% para 54,62%, entre 2004 e 2010.

Conclusão

A primeira e mais óbvia: a maior parte da culpa pelos juros altos é dos bancos. Isso é inegável, pois os números não mentem.

Então o que fazer para reduzir o spread bancário?

Por saber que a culpa é do lucro, o governo recentemente decidiu reduzir as taxas de juros cobradas pelos bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil), para estimular a concorrência e “forçar” os bancos privados a fazerem o mesmo. E pelo visto isso tem dado certo, já que vários bancos também anunciaram reduções.

Entretanto será que outras medidas poderiam ser tomadas para reduzir ainda mais o spread bancário? Acredito que sim. Vamos a algumas:

  • “Apertar o cinto” na análise do crédito, para diminuir os empréstimos a maus pagadores e reduzir a inadimplência;
  • “Afrouxamento” do compulsório, permitindo que os bancos fiquem com mais dinheiro para operar e reduzindo o impacto do compulsório no spread;
  • Redução dos impostos, pois não adianta aumentá-los para “morder” o lucro dos bancos, se estes sempre repassam os impostos aos clientes.

Acredito que essas medidas poderiam reduzir ainda mais as taxas de juros cobradas no Brasil, uma das mais altas do mundo, por sinal.

Por fim, finalizo este artigo com a belíssima conclusão de Luis Nassif, no excelente artigo ‘A nova etapa da competição bancária’:

Nos próximos anos, crescerão os bancos que conseguirem popularizar o varejo, atender à imensa legião desbancarizada e aos exército de novos empreendedores, que se seguirá à ascensão da nova classe C, a criar ferramentas de captação que compensem a queda de juros da poupança, a avançar nas novas regiões de crescimento dinâmico.

Será a maneira do setor bancário recuperar a legitimidade perdida, a ter uma função econômica relevante, garantindo seus lucros através dos ganhos de escala – não dos spreads escandalosos.

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