Nos dois últimos artigos que escrevi sobre a compra de carros através de financiamentos (‘Devo comprar carro financiado e continuar a investir?‘ e ‘Por que não comprar carro para assumir financiamento?‘), muitos leitores questionaram sobre consórcios e alguns chegaram a afirmar que consórcio é melhor que o financiamento.
Como muita gente não entende bem sobre essa modalidade para aquisição de bens, resolvi escrever este texto e tentar explicar o tema e mostrar as principais vantagens em aderir a um consórcio para adquirir um carro ou imóvel.
Para completar, o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor de vários best-sellers na área de educação financeira, escreveu um excelente artigo (‘O momento dos consórcios‘, publicado na Folha de São Paulo) sobre o assunto e nada melhor que compartilhar seus conhecimentos para ajudar a explicar o que é um consórcio.
Afinal, o que é um consórcio?
Um consórcio nada mais é que um grupo de pessoas (físicas e/ou jurídicas) interessadas em comprar um bem (automóvel, imóvel…) e que não tenham a necessidade de ter esse bem em mãos imediatamente. Esse grupo deve ser administrado por uma empresa, que será responsável por viabilizar o funcionamento do consórcio e, por isso, cobra uma taxa de administração.
A empresa administradora divide o valor do bem em um grande número de parcelas de modo que a soma das parcelas pagas pelos consorciados a cada mês permita adquirir um ou mais desses bens.
Isso permite que, mensalmente, um ou mais consorciados sejam contemplados por sorteio e adquiram a carta de crédito que compra o bem à vista. Além dos sorteios, a maioria dos planos de consórcios permite que os participantes ofereçam lances antecipando certo número de prestações. Quem der o maior lance leva a carta de crédito.
O que é melhor: consórcio ou financiamento?
A resposta, como (quase) sempre, é depende! Entretanto, do ponto de vista exclusivamente financeiro, o consórcio seria uma opção melhor na maioria dos casos. Digo isto porque muitas pessoas quando estão prestes a tomar essa decisão, querem o bem imediatamente. Neste caso, o consórcio não seria a melhor opção.
Entretanto, caso o comprador esteja disposto a esperar pela contemplação, o consórcio passa a ser um ótimo aliado. Para fazer essa comparação, vamos às contas!
Considerando a opção de adquirir um bem no valor de R$ 60.000,00 em 60 meses, existem – hipoteticamente – duas opções: comprar através de um consórcio com taxa de administração de 12% ou um financiamento com juros de 1% ao mês.
Nessa situação, quem optasse pelo consórcio pagaria prestações mensais de R$ 1.120. Já quem optasse pelo financiamento teria que desembolsar R$ 1.335! Enquanto no consórcio você pagaria 12% a mais sobre o valor do bem, no financiamento esse percentual é de 33,5%.
Então o consórcio seria um investimento?
Não, de forma alguma! Pela vantagem financeira em relação ao financiamento, muitos vendedores de consórcios costumam afirmar (equivocadamente) que o produto é um grande investimento. Definitivamente, consórcio não é investimento, pois, ao adquiri-lo, você está pagando mais do que vale sua compra, incluindo a taxa de administração no preço.
Isso não impede, entretanto, que consórcios viabilizem bons investimentos. Utilizando o exemplo do Cerbasi, se você tem uma boa reserva financeira, mas insuficiente para pagar um imóvel que está abaixo do preço de mercado, pode discutir com uma administradora de consórcios se sua poupança viabiliza um lance contemplável em poucos meses.
Ao assumir a prestação do consórcio -mais barata que um financiamento- e ofertar um lance contemplável, na prática é como se tivesse oferecido uma entrada no financiamento sem assumir todo o custo deste.
Muitos investidores fazem isso para comprar imóveis que, quando revendidos, trazem lucro maior que a taxa de administração. Lucram com dinheiro alugado. Vale a pena? Sim, mas, nesse caso, o consórcio não foi um investimento, e sim um custo. Investimento foi o imóvel.
Conclusão
Do ponto de vista financeiro, a melhor opção entre consórcio e financiamento é… pagar à vista! Se houver taxa de administração (consórcios) ou taxa de juros (financiamentos), a compra à vista sempre será a melhor opção.
Mas se você não tem esse dinheiro, pode esperar para adquirir o bem e precisa optar por uma dessas opções, escolha o consórcio. Principalmente em períodos onde as taxas de juros ainda estão muito altas. Quanto menor forem essas taxas, menos atrativos ficarão os consórcios. Portanto, como afirmou o Cerbasi, aproveite o momento. Avalie um consórcio antes de assinar um financiamento.