Milton Friedman, economista americano ganhador do prêmio Nobel, disse certa vez que a “inflação é taxação sem legislação“. Ele não poderia estar mais correto. E o maior problema é que a inflação atinge diretamente as classes mais baixas da sociedade, pessoas essas que deveriam ser as menos taxadas.
Todos que vivem exclusivamente dos salários, sem outras fontes de renda ou investimentos, sofrem ano após ano dos efeitos da inflação. Dificilmente o empregador – seja ele da iniciativa pública ou privada – oferece um reajuste anual que sequer iguale a inflação. Isso significa que o poder de compra dessas pessoas diminue ano a ano, “tributando” desmedidamente a classe assalariada.
O intuito deste artigo é explicar o que é e porque a inflação é o “imposto” mais caro e injusto que pagamos e promover uma discussão sobre o tema.
O que é inflação?
A inflação é o aumento persistente e generalizado no valor dos preços. Quando a inflação chega a zero dizemos que houve uma estabilidade nos preços.
De uma maneira simples, a inflação pode ser dividida em inflação de demanda e inflação de custos.
Inflação de demanda
É quando há excesso de demanda agregada em relação à produção disponível. Em outras palavras, tem muito mais gente querendo comprar do que produtos sendo ofertados.
Para a inflação de demanda ser combatida, é necessário que a política econômica se baseie em instrumentos que provoquem a redução da procura agregada (elevação da taxa básica de juros) ou aumento da oferta.
Inflação de custos
É associada à inflação de oferta. O nível da demanda permanece e os custos aumentam. Com o aumento dos custos ocorre uma retração da produção fazendo com que os preços de mercado também sofram aumento.
As causas mais comuns da inflação de custos são: os aumentos salariais fazem com que o custo unitário de um bem ou serviço aumente, o aumento do custo de matéria-prima que provoca um super aumento nos custos da produção fazendo com que o custo final do bem ou serviço aumente e por fim, a estrutura de mercado que algumas empresas aumentam seus lucros acima da elevação dos custos de produção.
Índices de inflação
Os principais índices de inflação são: IPCA, IPA, IPC-Fipe, INPC, INCC, IGP-M e IGP-DI. Todos estes índices estão muito bem detalhados no artigo “Conheça os principais índices de inflação“.
Problema da indexação
A indexação é um sistema de reajuste de preços, inclusive salários e aluguéis, de acordo com índices oficiais de variação dos preços. Em conjunturas inflacionárias, a indexação permite corrigir o valor real dos salários e aluguéis e demais preços da economia, reajustando-os com base na inflação passada. No entanto, a indexação automática pode realimentar a inflação futura.
Boa parte dos serviços públicos têm seus preços administrados corrigidos anualmente pela inflação. Apenas como exemplo, ônibus interestaduais, energia elétrica residencial, água, planos de saúde, serviços farmacêuticos, telefone fixo, telefone celular, telefone público e pedágio são autorizados pelo governo a reajustar seus preços de acordo com algum índice inflacionário, estimulando a inflação.
Problema da falta de infraestrutura e alta carga tributária
Além da indexação, sofremos também com a incapacidade das indústrias oferecerem o suficiente para suprir a demanda. Dentre várias causas para isso, podemos citar:
- Carga tributária elevada;
- Custo de infraestrutura;
- Folha salarial sobrecarregada com encargos;
- Custo do investimento;
- Baixo estágio tecnológico;
Para saber mais, recomendo a leitura do artigo “Os riscos do super-real“, escrito por Luis Nassif.
E por que os pobres são mais afetados que os demais?
Alguns podem estar se perguntando isso, já que a inflação causa impacto sobre todos. A grande diferença é que as classes mais baixas vivem exclusivamente do salário que recebem no final do mês, ao passo que os mais ricos possuem investimentos indexados à inflação.
Dentre esses investimentos, é possível ressaltar imovéis para aluguel (indexado ao IGP-M), ações de boas empresas (como crescem acima da inflação, os dividendos são cada vez maiores) e títulos públicos (NTN-B, indexados ao IPCA). Entretanto essa lista é muito mais extensa.
Conclusão
Já que controlar a inflação depende muito mais de políticas econômicas do governo, temos que pensar em como nos proteger dela e indexar nossos investimentos. O objetivo é depender cada vez menos do salário que recebemos no final do mês e cada vez mais do fluxo de caixa dos nossos investimentos. Esse é o caminho para tornar a inflação irrelevante e alcançar a independência financeira.
O que não pode é ficar parado, assistindo ao poder de compra ser corroído com o passar do tempo. Quem nunca ouviu essa história de um familiar ou amigo mais velho: “Há 15 anos, meu salário equivalia a 20 salários-mínimos. Hoje não vale nem cinco”? Não seja o próximo a contar essa história.