Algumas vezes acabamos de ler um livro e ficamos com algumas dúvidas ou querendo saber a opinião do autor sobre determinados assuntos que não foram tratados no livro. Pensando nisso, o Quero Ficar Rico entrevistou Carlos Alberto Debastiani, autor de diversos livros, dentre eles “Avaliando Empresas, Investindo em Ações” (recomendado entre os melhores livros do mercado financeiro pelo portal Exame) e “Pare de Viver na Corda Bamba“, lançado recentemente e que será sorteado em breve aqui no blog através da parceria com a Editora Novatec.
Carlos Alberto Debastiani atua como consultor na área de tecnologia da informação, em grandes instituições financeiras, há mais de uma década. Sócio-proprietário da empresa ObjectLine Informática Ltda., especializou-se em métodos e ferramentas de análise para o mercado de ações e conduziu o projeto de desenvolvimento do software especialista Market Weapon, hoje disponível na Internet para investidores de todos os níveis.
Também é instrutor em cursos de investimentos, colunista em diversos sites de finanças e autor dos livros:
- Candlestick – Um método para ampliar lucros na bolsa de valores;
- Análise técnica de ações – Identificando oportunidades de compra e venda;
- Avaliando empresas, investindo em ações;
- Boas apresentações vendem ideias;
- Pare de viver na corda bamba.
Quero Ficar Rico: Vemos, diante do aumento do endividamento e do incentivo ao consumismo, que muitas vezes compramos apenas por comprar, sem nos preocuparmos com o que realmente precisamos ou priorizamos. Qual a importância da definição de objetivos financeiros, seja pagar uma dívida, comprar um carro ou fazer uma viagem?
Carlos Alberto Debastiani: De fato, vivemos uma realidade de intenso incentivo ao consumo, com forte apelo ao descarte, impulsionado pela indústria da obsolescência que tenta nos convencer, o tempo todo, de que precisamos trocar, ampliar ou comprar um novo modelo. Será que precisamos mesmo?
Como ocorre em quase todas as áreas de nossa vida, na hora de decidir o que comprar devemos usar a ponderação e bom senso. Evitar a compra por impulso, ignorando àqueles anúncios do tipo “compre já” ou “ligue agora”, é uma ótima idéia. Sempre pense duas (ou mais) vezes antes de fechar uma compra.
Uma boa tática é se perguntar: posso esperar mais uma semana antes de efetuar essa compra? Se a resposta for “sim”, talvez você não esteja precisando realmente daquilo. Espere uma semana e faça, novamente, a mesma pergunta. Você ficará surpreso ao perceber quantas vezes é capaz de responder “sim”.
Traçar objetivos financeiros é essencial. Ninguém pode prosperar sem planejamento. Não construímos uma casa sem uma planta, não saímos em viagem sem traçar um roteiro, não assamos uma torta sem seguir uma receita. Por que deveria ser diferente em nossa vida financeira? Sem planejamento não conseguiremos chegar a lugar nenhum. O importante é traçar objetivos realistas, não adianta tentar alcançar as estrelas com as pontas dos dedos.
Se você não tem o hábito de planejar, comece com coisas pequenas que não exijam muito esforço, como uma poupança para quitar um financiamento ou realizar uma viagem de férias sem precisar entrar no cheque especial. Mas seja disciplinado e não desista até que seu objetivo seja alcançado.
QFR: Muitos livros, sites e blogs sugerem que elaboremos um orçamento doméstico para administração das finanças pessoais. Entretanto, o que de fato é um orçamento doméstico? Como elaborá-lo?
CAB: Há muitas formas de elaborar um orçamento. Como profissional da área de tecnologia, eu sou avesso ao uso de papel, então, faço meus controles sempre em planilhas eletrônicas. Elas são versáteis, não ocupam espaço e tem uma capacidade infinita de atualização.
Montar um orçamento doméstico significa colocar no papel (ou na planilha) todos os seus gastos e todos os seus rendimentos, a fim de analisar se os primeiros estão sendo cobertos pelos últimos. Ele também te permite descobrir para onde está indo seu dinheiro, pois você passará a notar seus gastos de forma minuciosa.
Não tente sofisticar demais, o orçamento doméstico não deve ser algo complicado. O meu é muito simples, apenas uma lista onde lanço as entradas de recursos (com sinal positivo) e os gastos e despesas que vão surgindo durante o mês (com sinal negativo). Dessa forma, uma simples soma aplicada à coluna de valores da planilha já abate as despesas das entradas de recursos e produz um saldo. À medida que novos lançamentos vão sendo inseridos, o saldo vai sendo automaticamente atualizado.
QFR: Mesmo após definir objetivos financeiros e elaborar um orçamento, é necessário controlar as dívidas, para que elas não cresçam e comprometam todo o trabalho realizado. Que dicas você poderia dar para controlar as dívidas?
CAD: O próprio orçamento já é uma boa ferramenta. Quando fizer seus lançamentos, não se restrinja aos gastos do dia ou do mês corrente. Eu mantenho um quadro de lançamentos separado para cada mês vindouro em que já sei que tenho obrigações futuras.
Por exemplo, se você parcelou o pagamento do IPTU, lance cada parcela no seu orçamento, nas datas de vencimento do imposto, nos meses futuros. Faça o mesmo com as contas de água, luz, telefone, aluguel e taxa de condomínio. Não esqueça de lançar também os cheques pré-datados ou parcelamentos do cartão de crédito. Isso te dará visibilidade sobre quanto do seu salário futuro já está comprometido com despesas básicas, financiamentos ou parcelamentos.
A maioria dos problemas financeiros nasce da falta de visão do futuro. As pessoas se tornam endividadas porque não conseguem perceber para onde vai seu dinheiro mensalmente (por não conhecerem a natureza de seus gastos) e, principalmente, porque não tem visibilidade do quanto já estão comprometidas com dívidas de vencimento futuro.
Uma boa estratégia é somar os parcelamentos a vencer e não assumir novas dívidas quando essa soma atingir 40% do seu salário líquido.
QFR: Após organizar as finanças e quitar as dívidas (ou, pelo menos, deixá-las sob controle), é importante também investir uma parte do nosso dinheiro. Qual a importância de investir e quais as opções mais atraentes atualmente no mercado?
CAD: Prosperidade se constrói com aumento do patrimônio e da qualidade de vida. Para que isso se torne realidade é preciso fazer com que sempre sobre alguma coisa no final do mês. Se ao invés de sobrar, está faltando, é porque estamos gastando além de nossas posses. É preciso rever e adequar os gastos, de forma que tenhamos um excedente de receita que possa ser investido para formação de capital.
O passo seguinte é montar um plano de investimentos. No início, a melhor opção é mesmo a poupança, que é um investimento simples, isento de impostos e garantido pelo governo federal (até o limite de R$ 60.000,00). Depois de acumular o suficiente, pode-se negociar uma boa taxa para um CDB ou ingressar em um dos inúmeros fundos de investimentos existentes no mercado.
Como atualmente vivemos um cenário de baixas taxas de juros, o que aproxima o rendimento dos fundos de investimento da remuneração oferecida pela poupança, é preciso prestar atenção às taxas de IR e de administração cobradas pelas instituições financeiras, pois esses encargos podem corroer boa parte dos rendimentos dos fundos e tornar o investimento menos atrativo do que a caderneta de poupança.
É preciso planejar também o prazo de investimento. Aplicar seu dinheiro por mais tempo pode garantir taxas melhores de remuneração e alíquotas reduzidas de IR.
QFR: Para quem tiver um perfil mais arrojado e quiser começar a investir em ações, já que existem excelentes expectativas para os próximos anos, por onde deve-se começar?
CAD: O atual cenário de juros baixos tem atraído, cada vez mais, investidores de pequeno porte para o mercado de capitais, onde se pode obter um rendimento bem maior que o oferecido pela poupança ou pelos fundos de renda fixa, através da compra direta de ações ou derivativos, mediante uma exposição maior ao risco financeiro, é claro.
O avanço da tecnologia e a popularização da Internet foram de grande auxílio nesse ingresso, ao facilitar e descomplicar a execução e o acompanhamento das operações pelo uso dos sistemas de home-broker.
No entanto, é preciso que o investidor se prepare para entrar nesse mercado tão diversificado e dinâmico. O ideal é que esse ingresso aconteça de forma gradativa, investindo-se somas crescentes de capital à medida em que o investidor se sentir confortável com o risco assumido diante das oscilações frequentes e de eventuais perdas (que inevitavelmente ocorrem) em negócios mal sucedidos.
Uma boa dica é começar investindo somente em ações que pertencem aos principais índices do mercado (como o Ibovespa e o IBRX-50), pois esses papéis tem ótima liquidez e procedem de empresas sólidas e bem posicionadas em seus segmentos de mercado.
Também é interessante que o investidor conheça alguns dos principais indicadores de desempenho das empresas (presentes em seu balanço) e do mercado como um todo.
Dessa forma, mesmo que o investidor erre no momento de mercado, ao efetuar sua compra, terá em mãos um ativo bem apreciado, com maior chance de recuperação.
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Agradecemos pela disponibilidade e participação do Carlos Debastiani, que respondeu prontamente à nossa solicitação da entrevista e contribuiu bastante com a discussão sobre os passos para alcançar a independência financeira: definição de objetivos financeiros – elaboração de orçamento – controle das dívidas – investimentos.
E aí, o que acharam? Se tiverem gostado, divulguem! Vocês não sabem o trabalho que dá para organizar um artigo como esse 🙂