Ainda não se sabe quanto a crise atual prejudicará a oferta de crédito no Brasil, mas é notório o crescimento do acesso ao crédito nos últimos anos. Empréstimo consignado, crédito ao consumidor, cartões de crédito, cheque especial e crédito bancário são algumas das várias modalidades de crédito existentes no mercado financeiro.
Para se ter uma idéia desse crescimento, o crédito ao consumidor ampliou de R$ 31,4 bilhões, em 1995, para R$ 214,3 bilhões, em 2006. Atualmente, empréstimo consignado e financiamento de automóveis são as duas modalidades mais utilizadas de crédito pessoal.
O problema é que a união do crédito fácil com pouco conhecimento sobre transações de crédito, má gestão das finanças pessoais e imprevistos financeiros tem causado uma situação já conhecida, mas com nome pouco conhecimento: sobre-endividamento.
O que é sobre-endividamento?
De acordo com a Comissão de Direitos do Consumidor da União Européia, sobre-endividamento é “a situação na qual a pessoa é incapaz de pagar suas dívidas com a renda que dispõe”. É o resultado do acúmulo de dívidas e pode ser originado por múltiplos fatores: situações econômicas, sociais, culturais e emocionais podem contribuir para o descontrole das finanças pessoais e familiares.
Quais as consequências do sobre-endividamento?
As principais consequências do sobre-endividamento são:
- Drástica redução da liberdade financeira levando a uma situação de semi – marginalidade;
- Redução da capacidade de consumo e perda de qualidade de vida;
- Perda de laços sociais;
- Perda de emprego.
Por conta da significativa importância desse tema, Bonnie Brusky e Reginaldo Magalhães publicaram no 5º Fórum Paulista um trabalho sobre o assunto, entitulado de “Endividamento e Educação Financeira”. Os objetivos da pesquisa foram avaliar os níveis de sobre-endividamento e idenficar características ou comportamentos associados ao sobre-endividamento. Todos os detalhes sobre a metodologia da pesquisa, amostra e resultados podem ser encontrados na apresentação disponível nesse link.
Resultados da pesquisa
Fiz um resumo dos principais resultados da pesquisa e dividi em temas, como pode ser visto a seguir:
Correlações estatísticas: os sobre-endividados têm uma probabilidade 2 vezes maior de usar empréstimos, 3 vezes maior de usar cheque especial, e quem tem casa própria (não paga aluguel) está mais propício a ficar endividado.
Despesas que desequilibram: as despesas que mais causam estresse financeiro são os gastos com automóveis, parcelas de financiamentos e despesas domésticas.
Tipos de crédito mais utilizados: crédito consignado, financiamentos bancários, financiamentos de financeiras, crédito imobiliário e cartões de crédito, nessa ordem.
Uso do crédito: o crédito consignado é utilizado prioritariamente para o pagamento de dívidas, o financiamento bancário para compra de automóveis e liquidação de dívidas, e financiamento de financeira para compra de automóveis.
Pagamento de dívidas: as principais dívidas a serem liquidadas são cheque especial e cartão de crédito.
Conclusões
Resultados-chave, segundo os autores:
- Endividamento é problema imediato para 17% das pessoas e problema potencial para bem mais;
- Cheque especial está altamente relacionado ao alto nível de endividamento;
- Automóvel é uma grande fonte de estresse financeiro;
- Crédito consignado é usado para pagar dívidas com juros mais altos.
Fica claro, portanto, a necessidade do uso consciente do crédito e de um bom planejamento financeiro. O crédito só é bom quando utilizado a seu favor. É importante entender como funcionam os empréstimos e, se ainda assim você tiver problemas, vale a pena conferir algumas dicas para sair do vermelho.
Fiquem à vontade para relatar experiências onde utilizaram o crédito a seu favor ou contra vocês.