O “mundo encantado” da bolsa de valores está cheio de mitos, como aquele que diz que toda ação sobe no seu lançamento (IPO), aquele que diz que ações de primeira linha (blue chips) são mais seguras e aquele que diz que, no longo prazo, todas as ações se valorizam.
Vamos nos ater um pouco a esse último mito. Muitos dirão que não é um mito, que é algo real e que pode ser comprovado. De fato, o “caminho de menor resistência” para uma ação é, via de regra, para cima (até mesmo pelo efeito inflacionário), mas isso nem sempre é verdade.
Ações caem e, às vezes, caem por muito tempo. Defensores da idéia de que ações “sempre” se valorizam no longo prazo muitas vezes apóiam suas conclusões baseados nos índices de ações. No longo prazo, todos os índices de ações sobem, mas isso não é por si só algo conclusivo, por causa de uma “coisinha” que, no jargão financeiro, é conhecida como survivorship bias (isso será assunto para um outro artigo no futuro…).
Mas ainda assim a idéia de índices subindo no longo prazo pode ser questionada. Afinal de contas, o que é longo prazo? Cada indivíduo tem uma noção própria do que é “longo prazo”. Para uma pulga, que vive em média seis semanas, duas semanas pode ser um prazo muito longo. Para uma tartaruga, cem anos pode ser um prazo altamente razoável. Mas o que é longo prazo para você?
Nem sempre é verdade…
Vamos ver o gráfico de um índice de ações bastante conhecido, o Nikkei 225 do Japão.
De seu ponto mais alto, em dezembro de 1989, até os dias atuais (agosto de 2011) o índice acumula uma desvalorização superior a 75%. Desvalorização continua ao longo de vinte e dois anos.
Talvez o índice recupere toda sua perda, mas em quanto tempo? Em um prazo extremamente longo talvez ele pareça uma forte e robusta tendência de alta. Talvez esses vinte de dois anos pareçam apenas um pequeno “escorregão” quando nossos descendentes olharem o mesmo índice daqui a cem ou duzentos anos. Mas para a maioria das pessoas “aqui e agora” a situação é desastrosa. Será que vinte dois anos é um prazo longo o suficiente para você?
O que aconteceu no Japão pode ser considerado algo incomum, mas nada impede que algo parecido aconteça conosco. Nada impede que algo parecido comece a acontecer agora mesmo.
Se nossa bolsa, por qualquer razão, entrar em uma tendência de queda por um longo período, é importante que o investidor saiba que ainda é perfeitamente possível lucrar com as ações. Talvez não da forma mais simples, que é simplesmente comprando e mantendo (o famoso “buy and hold”). Operar em mercados em queda exige um pouco mais de dedicação e uma técnica um pouco mais refinada, mas é algo perfeitamente factível.
Vamos, a seguir, ver oito estratégias para ganhar com a bolsa em queda, por nível de risco, indo da mais conservadora a mais agressiva:
Estratégia 1 (extremamente conservadora)
Simplesmente sair da bolsa e se “refugiar” na renda fixa.
Objetivo: preservar capital e esperar momento mais propício para recomprar as ações.
Estratégia 2 (conservadora)
Lançar opções de venda sobre as ações da carteira. Operação conhecida como “venda coberta” ou covered call.
Objetivo primário: fazer hedge (proteção).
Estratégia 3 (moderadamente agressiva)
Alugar ações de outra pessoa e vender para recompra no futuro (short sell). Também conhecido como “ficar vendido” em uma ação.
Objetivo primário: especulação.
Estratégia 4 (moderadamente agressiva)
Vender contratos ou mini-contratos de índice futuro (BM&F) para proteção de carteira.
Objetivo primário: hedge (proteção).
Estratégia 5 (moderadamente agressiva)
Fazer “trava de baixa” utilizando opções de compra. “Monta-se” a trava comprando uma opção mais cara e vendendo uma mais barata (mesmo ativo e mesma quantidade). Se o mercado cair ou ficar “de lado”, a operação é vencedora. Apenas se o mercado subir a operação poderá gerar um prejuízo (limitado pela trava).
Objetivo primário: especulação.
Estratégia 6 (agressiva)
Vender contratos ou mini-contratos futuros do índice Ibovespa na BM&F, sem necessariamente ter uma carteira de ações de valor correspondente, apostando em um movimento de baixa. Mercado alavancado: potencial de ganhos e perdas é amplificado.
Objetivo: especulação.
Estratégia 7 (extremamente agressiva)
Buscar mercados “alternativos” onde a direção do mercado não é relevante (tanto faz se estiver subindo ou caindo – opera-se do mesmo jeito), como os mercados de commodities e moedas. No Brasil commodities e moedas são operadas na BM&F. É um mercado altamente alavancado e exige controle de risco rigoroso.
Objetivo: especulação.
Estratégia 8 (beirando a insanidade…)
Venda “descoberta” de opções de compra. Operação onde os ganhos são limitados e as perdas ilimitadas. A pessoa que opera dessa forma poderá, caso algo “dê errado”, acabar devendo dinheiro. Operação só é recomendada para quem faz day-trade e é muito experiente.
Objetivo: especulação.
Você utiliza alguma dessas estratégias para ganhar dinheiro com a bolsa em queda?