A POUPANÇA (AINDA NÃO) MUDOU

 

A POUPANÇA (AINDA NÃO) MUDOU

 

Esta semana, não só nós, mas também vários outros blogs que discutem finanças pessoais e economia – que andei visitando – recebemos muitos emails de pessoas preocupadas com estas mudanças na poupança.

Achei bastante cabível um comentário que Carlos Alberto Sardenberg colocou no seu blog, dizendo que a poupança ainda não mudou, e resolvi comentá-lo um pouco mais. 

A poupança ainda não mudou!

E é fato. As mudanças que o governo apresentou nesta semana ainda são apenas propostas. Além disso, são propostas para mudanças que – mesmo que sejam aprovadas ainda este ano – só acontecerão em 2010. Agora, estas propostas serão encaminhadas ao congresso para que eles analisem o conteúdo das mudanças e julguem quais destas mudanças serão aplicadas na prática.

Sobre a eficácia as mudanças propostas

Os especialistas (exceto os do governo) são unânimes: as mudanças propostas para a poupança não terão absolutamente nenhum efeito de curto prazo na crise financeira pela qual estamos passando.

Na verdade, o governo encontrou uma forma muito pouco inteligente para diminuir a atratividade da poupança para os grandes investidores. A maior vantagem destas mudanças (para o governo) é que elas não alteram a arrecadação de impostos. Aliás, alteram, mas para cima.

A idéia era permitir a queda dos juros. No entanto, como os juros podem cair?

Todo o dinheiro depositado na poupança, por lei, deve ser encaminhado para linhas de financiamento habitacional. Assim, se os bancos precisam garantir 6% do rendimento ao seu credor (o poupador), certamente cobrará mais do que isto para os seus clientes. Acrescente aí as taxas de inadimplência e outros riscos relacionados, que os juros passarão dos 10%. Por isso, setores que poderiam se beneficiar diretamente desta queda dos juros, como construção civil, geração de energia elétrica ou telecomunicações, no final das contas também não serão beneficiados.

No entanto seria irresponsabilidade não comentar que, a longo prazo, os juros para o comércio varejista certamente cairão. Isso, por sua vez, acarretará um aquecimento no consumo e representará alguma coisa significante nesta briga contra a crise. 

Mas por que atacar esta questão com mudanças tão complicadas e tão pouco eficazes?

E o leitor há de concordar que as mudanças são complicadas! Tanto de explicar, quanto de entender.  Inclusive, a melhor forma de explicar – que é como o governo vem explicando – é assim: “a poupança não vai mudar para 99% dos poupadores, e possivelmente não mudará pra você também“.

A mudança realmente significativa e interessante que o governo está discutindo agora é a queda na tributação sobre a renda dos fundos de investimento. Esta sim é uma mudança que pode trazer benefícios a curto prazo, tanto para nos ajudar a superar a crise, quanto diretamente para os populares.

O brasileiro já está cansado de pagar impostos… tão cansado, que nem aguentamos mais escutar a possibilidade de um novo imposto. Mesmo quando  a maioria de nós nem vamos pagar este imposto (como neste caso)!

O que acredito que falta aqui, de verdade, é instrução. O governo deveria investir mais na educação financeira e incentivar as pessoas a buscarem investimentos mais arrojados. O tesouro direto é um exemplo de investimento muito bom, mas muito pouco divulgado. Os próprios fundos de investimento foram durante muito tempo –  e podem voltar a ser caso o IR deles realmente seja reduzido.

O investimento mais saudável é aquele que você faz de forma consciente, independentemente do seu rendimento real.

O brasileiro deveria ser não só instruído a poupar, mas educado à investir.

Na minha humilde opinião, a melhor proposta para diminuir a atratividade da poupança, seria uma alteração na indexação. Uma possível saída seria indexar a poupança diretamente pelo IGP-M. Afinal, a poupança foi criada com o intuito de ser utilizada para “poupar” sem que o dinheiro do poupador sofresse perdas de valor. E não para investir. E assim foi a poupança durante muito tempo – quando não se acreditava que a inflação cairia tanto. Observe que nesta simples idéia não teríamos nenhum imposto novo!

Atualmente o rendimento da poupança é garantido, por lei, em pelo menos 6,17% ao ano. A inflação prevista para o Brasil este ano gira em torno dos 4%. Com a queda esperada para a taxa de juros, pode ser que a inflação fique estável nesta faixa, mas a previsão é de que ela vai cair ainda mais. Sendo assim, imaginem um investimento que garante o retorno de uma vez e meia, ou duas vezes, quem sabe, o valor da inflação. Este pode ser considerado como um ótimo investimento! Ótimo investimento, e não poupança.

Como a cultura do planejamento financeiro e investimento doméstico é recém-nascida no Brasil, ainda ficamos um pouco receosos quando vemos estes números diminuindo. Há apenas dois ou três anos atrás, alguns fundos de investimento ofereciam entre 20% e 25% de rendimento anual  (quando a taxa de juros era o dobro da atual e a inflação bem maior). Ou seja, tínhamos a impressão de que estávamos ganhando mais, por outro lado estávamos pagando mais por isto.

Na verdade, esta crise acabou desencadeando aqui no Brasil um importante processo de amadurecimento econômico.

Observe que o que interessa, de verdade, são as proporções, e não os números.  Em quase todos os países desenvolvidos, as taxas de juros e de inflação giram em torno de 1%.  Nestes países, investimentos que consigam oferecer um rendimento de 2% ao ano, são ótimos negócios. Vejam que, apesar de estar falando do número “2”, estou falando de uma proporção de “100%” acima da inflação.

Nestes países, quem quer poupar, pode muito bem utilizar a sua própria conta corrente ou produtos de capitalização (que aqui no Brasil sempre foram péssimas escolhas).

Vi um comentário na televisão, não me lembro exatamente de quem, mas alguém que citou que: “não é justo que o povo investir na poupança durante tanto tempo e, agora que teria um rendimento interessante, ser prejudicado“. Mas a “poupança” não é (ou não deveria ser) “investimento”. Este cidadão que “investiu” durante anos e anos na poupança certamente não teve instrução suficiente para procurar outras formas mais rentáveis, e tão seguras quanto, de investimento.

O fato é que, agora, quem tem esta instrução, está correndo pra poupança. E o que deixou de ser justo – do ponto de vista econômico – é a existência de um investimento tão interessante quanto a poupança se tornou – ajudando a secar ainda mais as fontes de crédito direto para o consumidor, sejam para pessoas físicas, jurídicas ou governo. Fontes estas que já estão bastante sofridas por causa da crise.

Mas ainda não é tarde demais!

Apesar de alguns deputados estarem “se lixando” para a opinião pública, acredito que agora é a hora desta opinião pública pressionar o congresso para não aprovar estas mudanças na poupança. Há de serem discutidas medidas mais inteligentes e eficazes para combater esta crise.

Nos últimos tempos nós – opinião pública – temos conseguido importantes vitórias no campo econômico no Brasil.

E acredito que desta vez não será diferente.

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