BANCOS "SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS"

A emergência do conceito de “responsabilidade social” das empresas, e sua rápida penetração no mundo da política e das relações sociais, é um avanço notável. Significa que as sociedades estão questionando, na prática, uma das idéias centrais do capitalismo: a de que o interesse egoísta é o motor principal da riqueza e da felicidade coletivas. Esta mudança cultural tem efeitos práticos evidentes: ela potencializa as ações da sociedade civil para resistir às ações predatórias do capital e para construir novas lógicas e relações.

Exatamente por isso, é muito importante separar o joio do trigo. Como o conceito de “responsabilidade social” empresarial é, ao mesmo tempo, recente e charmoso, há sempre o risco de que seja apropriado. Corporações interessadas em projetar imagem positiva, e com amplo acesso à mídia, podem alegar que são socialmente responsáveis, para desviar a atenção da opinião pública sobre suas práticas condenáveis.

A julgar por um trabalho de envergadura, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), há uma semana, este parece ser o caso do setor financeiro, no Brasil. Criticado há muito por constituírem cartel, abocanharem parte importante da riqueza pública (via juros da dívida pública) e cobrarem, na concessão de crédito a clientes, taxas de juros típicas de agiotagem, o setor adotado a estratégia de associar sua imagem à responsabilidade social — em especial a proteção à natureza e a mobilização contra o aquecimento global. Quase todos os grandes bancos veicularam maciçamente, nos últimos meses, campanhas publicitárias caríssimas, coincidentemente com o mesmo sentido. O cartel, ao que parece, também atua em conjunto na construção de imagem.

Mesmo que os bancos respeitassem o ambiente, já seria tentativa de iludir os cidadãos: cuidar da natureza é álibi para a devastar o patrimônio dos contribuintes e dos consumidores. Mas o que o IDEC mostra, com base num vasto levantamento, é que, além de ilusória, a propaganda é enganosa. Ao avaliar (numa escala de um a cinco) as práticas trabalhistas, ambientais e de respeito ao consumidor das oito instituições financeiras com mais de um milhão de clientes no país (em ordem alfabética, ABN Amro Real, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Santander e Unibanco), o IDEC atribui-lhes “notas” que oscilam entre 1,51 (tenebrosos 3,02, numa escala de um a dez) e 2,75 (medíocres 5,5, de um a dez). O ranking é o seguinte:

  • ABN Anro Real: 2,75
  • Bradesco: 2,60
  • Itaú: 2,41
  • Banco do Brasil: 2,21
  • Caixa Federal: 1,93
  • HSBC: 1,73
  • Santander: 1,51
  • Unibanco: 1,51
O relatório completo (104 páginas, formato pdf) pode ser baixado aqui. Observação sugestiva: uma pesquisa nas páginas brasileiras do Google levava a crer, até a noite de domingo (24), que nenhum dos jornais brasileiros de maior circulação havia noticiado algo a respeito do estudo.

Fonte: Le Monde Diplomatique

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